Como se Faz Um Fascista, de Giulio Castelli. 1.ª Edição. 234 pp. 1974. Editorial Intervenção.
Nesta contundente obra-prima reveste-se de fisionomia literária uma personagem muito frequente no nosso contexto social e que, sem embargo, não havia até hoje «encontrado» autor.
Giulio Castelli dispôs-se a formular a inquietante pergunta de como se pode, nos nossos dias, tornar-se uma pessoa fascista. E para responder à pergunta decidiu percorrer o itinerário mental, psicológico e cultural de um jovem que não conheceu a guerra nem a Resistência. A nível psicológico, Luca, a personagem, é incapaz de discernir a mínima contradição no seu desenvolvimento, como tão-pouco no da colectividade — e este facto, por si só, bastaria para o tornar um fascista inconsciente.
A nível interior tem um pavor intenso de que uma violência «inferior», plebeia, possa fazer derrocar as frágeis protecções de que se rodeou e, no termo da sua evolução, distingue uma única via praticável: a via de uma cada vez mais frenética sublimação estetizante e da reacção violenta.
Deste «fascista possível», descreve Castelli com humor e lucidez os aspectos subtilmente grotescos, os infantilismos, a angústia de uma possível «catástrofe ecológica», as manias, os tiques, as experiências sexuais e, bem assim os conflitos com um mundo feminino lascivo, politizado e exclusivista — e termina propondo uma espécie de «delírio plausível», de extremo interesse literário e sociológico.