O Bar da Ressaca, Olivier Rolin, ISBN 9722007408, Dom Quixote, 1989.
Por entre recordações de um homem que não cessa de dedicar às empregadas de mesa ou de balcão um amor simultaneamente obsessivo e fútil, perpassam silhuetas de longínquas cidades, retratos de mulheres que um qualquer detalhe luminoso salva do esquecimento, evocações de escritores que conheceu —em carne, osso ou palavras. Buenos Aires, Lisboa, Trieste, Praga ou Alexandria, toda uma lenta vertigem que faz deslizar as imagens até ao esboço da quimera de uma cidade única, de uma mulher que evoca todas as outras (Amália, Adriana, Aurélia), de um escritor— Proteu, de que Pessoa, o poeta das múltiplas máscaras, poderia bem ser a figura central.
O Bar da Ressaca tenta pois o exercício de transcrição das obsessões da memória, a fixação do jogo de sentimentos que por vezes liga, de forma assaz misteriosa, o fascínio das cidades, dos livros ou dos rostos. E, ao mesmo tempo, narra-nos de modo subtil a história de uma quase iniciação, a tentativa de uma aproximação do Aleph, que faz o narrador participar do movimento infindável dos céus, dos sonhos, da água e das linguagens em que tudo isso finalmente se exprime.
O Bar da Ressaca: um romance lírico e encantatório, que confirma o seu autor como uma das vozes mais interessantes e inovadoras da moderna ficção francesa.
Olivier Rolin nasceu em 1947. Tem quatro livros publicados, dois dos quais são romances (Phé-nomène futur, 1983, e a presente obra, lançada originalmente em 1987), sendo os dois restantes constituídos por impressões de viagem (En Russie, 1987, e Sept Villes, 1988).
